Virola theiodora
O curandeiro e porta-voz indígena Davi Kopenawa colaborou durante décadas com o antropólogo francês Bruce Albert para produzir The Falling Sky: Words of a Yanomami Shaman, uma surpreendente e inspiradora história de vida que Albert chama de “profecia cosmoecológica sobre a morte de xamãs e o fim da humanidade”.
O livro narra, com detalhes frequentemente dolorosos, a luta dos Yanomami para salvar suas terras e tradições culturais das incursões de missionários, construtores de estradas, trabalhadores do governo, garimpeiros e pecuaristas.
Esses conflitos se tornaram muito mais violentos, habituais e potencialmente apocalípticos sob o governo racista brasileiro de Jair Bolsonaro, que disse: “Os índios estão sem dúvida mudando… Eles estão se tornando cada vez mais seres humanos, como nós”.
Kopenawa, quando jovem, decidiu que precisava aprender português, perguntando: “Não me cabe a mim defender nossa floresta”?
Em The Falling Sky, ele declara: “Não queremos que nossa floresta morra, coberta de feridas e do desperdício do povo branco. Ficamos furiosos quando queimam suas árvores, rasgam seu chão e sujam seus rios… As peles de papel de seu dinheiro nunca serão numerosas o suficientes para compensar o valor de suas árvores queimadas, de seu solo dessecado e de suas águas sujas”.
Suas idéias e seu ativismo social são reforçados através de sua relação vitalícia com a yãkoana (Virola theidora, da família Noz-moscada), um poderoso rapé visionário feito da resina da casca da grande árvore.
Ele diz: “Eu defendo a floresta porque a conheço graças ao poder da yãkoana”.
Ele prossegue, dizendo: “Se não alimentarmos os espíritos com a yãkoana, eles dormem em silêncio e nosso pensamento permanece fechado”.
Uma equipe de cientistas brasileiros liderada por Inês Ribeiro Machado publicou em 2021 uma visão geral da Virola surinamensis, uma espécie intimamente relacionada à V. theiodora, na qual resumem pesquisas relacionadas às propriedades médicas, terapêuticas e farmacológicas da planta como antimicrobiana, larvicida, antitumoral, antinociceptiva e anti-inflamatória, antioxidante, leishmanicida, antimalárica, cercaricida, tripanocida, gastroprotetora e antiulcerogênica. Em uma seção sobre usos medicinais tradicionais da Virola, os autores mencionam que os índios Waiãpi do Amapá inalam o vapor das folhas da planta como tratamento para a malária. A V surinamensis também é usada como repelente de insetos, para a cicatrização de feridas e também para “inflamações dos sistemas digestivo, urinário e reprodutivo”. Conhecidas como ucuuba, as sementes e a casca da V. surinamensis são usadas por diferentes grupos étnicos como alucinógenos em seus rituais. As sementes de ucuuba também são de interesse para a indústria de cosméticos. (Veja também Vieira Botelho de Almeida na Bibliografia de Microcosmos).